quinta-feira, 6 de março de 2008

Pedro

Como toda manhã desde os seus 5 anos de idade Pedro levantou da cama sozinho, se trocou rapidamente e saiu de casa com seu pai, que já o esperava à porta. Caminharam, ainda antes de o dia nascer, como sempre pela mesma estradinha de terra batida, que de vez em quando passava um carro que levantava a terra vermelha e fina, que deixava os cabelos de Pedro como se fosse o gel de cabelo dos meninos da cidade. Chegaram e seu pai foi logo trabalhar enquanto Pedro seguiu andando um minuto mais, deixou suas coisas sobre um tronco velho para não sujar.
Era o mais dedicado, sempre fazia tudo com o maior empenho, o que sempre lhe custava muitas gotas de suor, quando o mais velho falava era sempre o mais atento, não conversava durante suas atividades, pelo empenho e pela ajuda seu rosto sempre ficava sujo de pó. E era assim todo dia, não pensava em mais nada, mesmo sendo o mais esforçado de todos, não gostava. Mas sabia que não precisava gostar, pois era necessário e importante para a família. Tinha sonhos, como qualquer criança de 10 anos, mas que não cabem agora contar.
A precariedade era visível, não havia cadeiras, assim, sentava em troncos ou mesmo no chão. Não havia teto nem paredes, tudo era feito ao ar livre, e nos poucos dias do ano que choviam Pedro podia dormir até mais tarde. O bastão de riscar era preto e não branco como o dos meninos da cidade. Não tinha intervalo para o lanche, só para beber um pouco de água, uma água barrenta e até um pouco salgada que bebiam de um poço artesiano. Pedro era o filho mais novo, seus outros três irmãos não iam mais com ele, pois estavam muito doentes, e isso o deixava muito triste, não por que seus irmãos estavam mal, mas por que sabia que um dia também ficaria doente.
A estaca enfiada no chão não fazia sombra, isso queria dizer que o sol estava a pino, e era hora do almoço. Pedro pegou suas coisas no tronco e foi ao encontro do pai. Tirou um trapo de pano das coisas e limpou seu rosto sujo de pó de carvão, pegou a colher e comeu sua marmita como assim fazia desde os 5 anos de idade. E como sempre, lembrava de seus sonhos, conhecer a cidade, dormir até tarde, almoçar em uma mesa, e entre uma colherada e outra imaginava como seria estar em uma escola.
Marco Aurelio Yamamoto Ito (Março de 2008)

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